2022: Um ano para fãs de SRPGs // .TXT



Como muitos que hoje se consideram fãs de SRPGs (RPGs estratégicos), eu tive meu primeiro e enfático contato com o subgênero a partir de Final Fantasy Tactics no PlayStation original. Apesar de haver toda uma narrativa que pretendo reviver com afinco num período próximo, a minha afeição pelo trabalho daquele que viria a se tornar um dos meus game designers favoritos, por Yasumi Matsuno, condizia com a mistura do que parecia um jogo de tabuleiro com toda a fantasia criada por Hironobu Sakaguchi. Apesar das origens do estilo datarem muitos anos antes de FFT, foi ele quem ajudou a popularizar e definir praxes para o gênero e consecutivamente abrir portas para muitos "clones"; bastava olhar para o título de um jogo e se ele carregasse "Tactics" em seu nome era quase certeza de que você estaria andando sobre grades, ganhando níveis e, bem, perambulando numa zona de conforto bastante prazerosa. 

Apesar disso a verdade é que ao olhar para a história da combinação entre estratégia e RPG, fica o sentimento de que os trabalhos anteriores de Matsuno com a franquia Ogre Battle não receberam a devida atenção e carinho. Eu mesmo confesso que apesar do contato com ambos Ogre Battle: The March of the Black Queen (SNES) e Ogre Battle 64, eu não os terminei e isso, para alguém que se empolga tanto com qualquer coisa que Matsuno esteja envolvido direta ou indieramente, é um sacrilégio! Todavia com o retorno iminente de Tactics Ogre eu ei de começar a remediar isso.

Mas o que torna esse tipo de jogo tão especial? Bem, baseando-me ainda na minha última e longa estadia com Triangle Strategy, eu diria o seguinte: primeiramente as batalhas em turnos, com a movimentação meticulosa de cada personagem num campo (geralmente isométrico); diferente do que se vê entre RPGs tradicionais por turnos, a necessidade de mexer "peças" com cuidado redobra a atenção que o jogador precisa ter para se sair vitorioso; a ênfase no fantasioso e medieval que muitos trazem, como os até então citados, é outra coisa que me prende deveras, sendo uma temática que, embora não seja de longe uma regra para muitos SRPGs disponíveis, tem seu toque especial. O foco narrativo também é um elemento fortemente presente e apreciável, o que não é inesperado devido ao gênero primário ao qual falamos; intrigas políticas, traições, crianças que acabam indo parar em mundos paralelos e fantásticos, outras que lutam ao lado de demônios... seja sob teor contemporâneo ou não, existe todo tipo de enredo disponível.


O perfil estratégico e tático dos RPGs já vem rendendo excelentes jogos não é de agora, vide o despertar de Fire Emblem no 3DS em 2012 ou o lançamento original de Valkyria Chronicles no PS3 há longínquos 14 anos. 2022 porém tem se mostrado um ano especial para quem gosta de SRPGs, trazendo diversas opções para aqueles que, como eu, adoram andar sobre grades. Apesar do gênero não ser uma novidade no meu radar, o recente Triangle Strategy mesmo reacendeu essa paixão de me aprofundar como eu já não fazia desde as mais de 150 horas que passei com Final Fantasy Tactics A2: Grimoire of the Rift. Eu tinha muito tempo livre com o meu Nintendo DS mesmo — bons tempos, aliás.

Enquanto o suposto remaster de Final Fantasy Tactics não é confirmado — ele que apareceu no mesmo vazamento da Nvidia do já confirmado Tactics Ogre Reborn —, o que não faltam são opções já lançadas e outras que chegarão em breve. Isso só confirma a relevância e força do gênero. E neste RANDOM ENCOUNTER eu separei algumas opções que considero bem interessantes! 

Se você está procurando um SRPG para jogar este é o seu ponto de partida aventureiro. 

Obs.: clique nas imagens para trailers

Ao colocar Triangle Strategy ao lado de The Legend of Zelda: Breath of the Wild em minha análise eu sei que elevei o status do título a um nível muito, mas muito alto. Mas a verdade é apenas uma: definitivamente considero a criação da Artdink e Square Enix uma das melhores opções disponíveis não só no Nintendo Switch como do gênero num todo — ao menos daquilo que já joguei, é claro. Ainda que um jogo inteiramente novo hoje eu enxergo nele uma homenagem para o trabalho de Yasumi Matsuno, seja do tom mais sério de sua narrativa à possibilidade que o jogador tem de moldar sua história com decisões que, inclusive, faz com que personagens completamente diferente apareçam para se unir à sua causa. É um SRPG fantástico para  voltar e jogar inúmeras vezes, mesmo que a prazerosa jogabilidade das batalhas tenha sofrido pelo pesado foco narrativo.


Nascido no PS1 em 1998 Brigandine não figura exatamente entre os mais populares do gênero. Ao menos eu nunca tinha ouvido falar dele até o mais novo título da série, The Legend of Runersia, lançado ao PC esse ano — o jogo também está disponível para PS4 e Switch desde 2020. O que despertou meu interesse aqui foi a mistura de ingredientes: trata-se de um tático com gerenciamento de exércitos e conquista de territórios, que lembraria mais os tabuleiros de War se seus confrontos não partissem à movimentação sobre hexágonos e batalhas por turnos. Assim como outros aqui destacados, há uma relevância e peso narrativo bem grandes ao trazer perspectivas de 6 reinos diferentes, sendo 5 deles detentores de poderosas joias. Múltiplos finais são necessários para desvendar toda a história por trás dos conflitos, e enquanto isso seja empolgante há também lindas artes e a possibilidade de montar seu exército com criaturas fantásticas.
                                                                                                                                                   

Inspirado em clássicos dos anos 90 como Heroes of Might and Magic, o primeiro jogo dos suecos da Lavapotion me surpreendeu inicialmente pela beleza gráfica. Digo isso devido ao esmero da arte pixelada, à atenção nos detalhes e das animações. Isso só incrementa as vontades de explorar um continente carregado de magia e duelos entre facções distintas. Ainda que em acesso antecipado, as campanhas principais estão finalizadas assim como é possível dar uma de mestre de jogo e criar aventuras com o editor de níveis utilizado pelos próprios desenvolvedores. Além das "batalhas hexagonais", que são ditas serem bem desafiadoras por sinal, o gerenciamento de construções e recursos são outros fatores bem importantes durante toda a jornada. Songs of Conquest é sem dúvida um dos destaques do gênero e da cena indie no ano.


Ainda que criado com o RPG Maker, o que condiz com visuais mais simples (principalmente fora das batalhas), Symphony of War apresenta-se como mais uma opção para todos nós fãs de Fire Emblem e Ogre Battle. Logo, certos elementos são esperados como a movimentação por grades, estreitamento de relacionamentos e o desenvolvimento dos personagens com a opção de escolha entre mais de 50 classes diferentes! Um número bem expressivo, diga-se de passagem. A formação dos exércitos é outro ponto deveras importante, sendo necessária a atenção em como montar cada equipe já que os embates desdobram-se entre esquadrões. Com uma campanha dita perdurar por mais de 40 horas, somos envoltos numa trama sobre o resgate de uma imperatriz e na restauração da ordem nas terras de Tahnra, essa que sofre pelas ações de um grupo rebelde e corrupto.

                                                                                                                  
Comemorando 25 anos do anime original a Bandai Namco publicou essa jornada sobre novos "digiescolhidos" em um conto "sombrio sobre amizade e sobrevivência". Apesar de trazer elementos esperados, como o colecionismo dos monstros digitais e as batalhas por turno sobre grades, Digimon Survive é uma fusão entre um SRPG e visual novel. Na verdade ele é mais o segundo do que o primeiro, logo há muitos diálogos para conferir em um jogo que parece bastante uma animação interativa — e isso não é algo ruim, principalmente se você for de de animações nipônicas. Apesar da ênfase em textos, o que talvez condiga com uma atenção secundária às batalhas, ao jogador há escolhas que determinam não só os desfechos da narrativa como as próprias evoluções dos monstros. O melhor de tudo? Tradução ao português com uma localização aparentemente caprichada.


Mais uma opção para sairmos do plano medieval, Hard West 2 felizmente independe de conhecimentos prévios com o título de 2016. Todavia o velho-oeste volta a ser palco num tático que abraça também o sobrenatural; a bala come solta em ambientes que trazem desde um trem fantasmagórico ao confronto contra hordas demoníacas. Na verdade os elementos e influência de RPG parecem ser tímidos aqui, fazendo com que esse seja mais um jogo tático do que qualquer coisa. Mas o fato de se desprender de temas que estamos tão habituados no gênero é um ponto a seu favor, e o toque da intepretação encontra-se, por exemplo, em escolhas entre diálogos. Há ainda um sistema de batalha que premia mortes instantâneas com mais rodadas, ou mesmo projéteis que podem ser redirecionados com o ricocheteio nos cenários, tudo em meio a missões que às vezes tornam-se mais dinâmicas.

 
Entre as apostas da Square Enix no ramo tático em 2022 é esse quem parece carregar o maior orçamento, o que inclui os gráficos mais pomposos e até mesmo na contratação do compositor de Game of Thrones. Todavia outro detalhe é a adesão de um estilo inteiramente novo às batalhas, ou a junção entre estratégia em tempo real (RTS) e tática, culminando no proprietário BTTR, ou "batalha táticas em tempo real". Se Final Fantasy XII: Revenant Wings me mostrou algo é que eu deveria jogar mais RTS, ou que a mistura deles com RPGs pode gerar um casamento extremamente viciante. Apesar de não ouvirmos muito sobre DioField desde sua chegada, o que parece refletir uma recepção morna, seu conceito me intriga, assim como acompanhar a trajetória de seus protagonistas, os mercenários de elite conhecidos por Blue Fox, em um conflito por um minério de grandes propriedades mágicas.


Apesar da sua cara de jogo "triple AAA", ou de grande orçamento, Lost Eidolons é um título indie concebido graças a uma bem sucedida campanha de financiamento do ano passado. De visuais voltados ao realismo o jogo é certamente um dos SRPGs mais bonitos lançados em 2022. Quando assisti seu trailer a primeira vez foi Fire Emblem que me surgiu à cabeça, e a inspiração é mencionada pelos próprios desenvolvedores sul-coreanos; e, por falar nisso, parece que o ainda recente Fire Emblem: Three Houses foi usado como base já que para além do plano tático e movimentação reconhecíveis, o título independente também muda perspectivas fora dos embates, permitindo desde o desenvolvimento de relações entre personagens como o treinamento dos próprios em um acampamento. Ainda que diante da pegada realista há uma parcela de fantasia nesse conto sobre a luta contra um império tirano.


Em 1995 chegava ao Super Famicom (SNES) um dos trabalhos mais aclamados de Yasumi Matsuno, o segundo jogo da Saga Ogre Battle que definiu uma geração. Muitas coisas que vim a apreciar tardiamente em SRPGs nasceram aqui e em seu antecessor, The March of the Black Queen, como decisões que moldam narrativas e desfechos. Em 2010 Tactics Ogre recebeu um remake ao PSP e é com base nele que não só Matsuno como outros nos entregam o que é praticamente a versão definitiva do título, de um jogo cujas versões anteriores já eram capazes de manter alguém por centenas de horas sem a capacidade de presenciar tudo o que ele tem a oferecer. As melhorias implementadas são muito bem vindas, como dublagem para todas as cinemáticas, ou a possibilidade de aumentar a velocidade dos confrontos, tornando essa uma experiência perfeita para novatos ou veteranos.


No mundo eletrônico o universo Marvel tem seus altos e baixos, mas quando se trata de RPGs as lembranças habitualmente são mais positivas que as das investidas em outros gêneros. Com seu próximo título a Fireaxis Games traz uma opção bastante interessante com os heróis e vilões da casa das ideias ao passo que usa toda sua expertise tática e estratégica, a exemplo da série XCOM, em conjunto com uma história baseada no grupo conhecido nas HQs como "Midnight Sons". A luta contra as forças das trevas aqui reflete-se em um RPG de estratégia com cartas, ou seja, não só a movimentação será importante como o uso de recursos disponíveis na "mão" do jogador. Além dos embates que esbanjam o perfil super dos heróis e seus poderes, é possível desenvolver laços que garantem mais possibilidades às batalhas e dão um toque de simulação à jornada. Ghost Rider não sairá do meu time!

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Por mais que não faltem opções no ano — e minha pesquisa pra essa lista me trouxe quase 50 nomes —, confesso que a coceira para voltar pra mais 50 horas de Triangle Strategy não somem. É um jogo realmente muito bom. Ainda assim ao explorar as alternativas de 2022 e além eu já quero jogar e muito os aqui destacados e espero trazer mais conteúdos focados nele, como por exemplo as análises de cada um. E vocês, conheciam alguns dos títulos aqui mencionados? Caso tenham jogado deixem aqui suas opiniões!

[RANDOM ENCOUNTER: RPGisticamente aleatório]

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