FINAL FANTASY VII REMAKE: é bom revê-lo, CLOUD! // .TXT


Embora não tenha tido o privilégio de jogar Final Fantasy VII em seu lançamento, ocorrido há quase 30 anos no PlayStation, foi difícil deixar de me envolver com ele e seu legado. A história entre Cloud e Sephiroth, a luta do grupo Avalanche, e todos os avanços técnicos que ele trouxe, o catapultaram para um status ímpar em meio a tantos RPGs. Seja movidos por nostalgia, pelo fato de ter sido o seu primeiro jogo do gênero, ou outras razões, muitos o têm como um dos melhores jogos de todos os tempos. 

Trazer de volta o que já era grande para a época, sendo ele lançado em 3 CDs em pleno 1997, realmente soa como um trabalho massivo, mas as ideias por trás de um remake têm de ultrapassar melhorias audiovisuais; é sobre repensar conceitos, personagens e potencializar o núcleo que torna algo especial. Lá em 2005 a Square Enix até nos instigou com um retorno atualizado do clássico, mas tratava-se apenas de uma demonstração técnica criada no PS3. 

Ainda não era o momento.


O ano agora era 2015, durante a conferência da Sony na finada E3. Um anúncio de proporções nucleares havia sido feito no evento: Final Fantasy VII Remake enfim estava em desenvolvimento ao PS4. Até mesmo eu que por um fatídico problema não consegui terminar a versão do PS1, vendo meu save se corromper justo antes da batalha final, me vi pego pelo hype e reações alheias bastante emocionadas. Era como se eu tivesse sido transformado numa das pessoas que o conheceram décadas atrás, um fã de longa data. Eu já gostava de FFVII, é verdade, mas não fazia ideia do quanto até aquele dia.

Do anúncio à chegada se foram mais 5 anos, com o primeiro episódio do remake sendo lançado em 2020. Sim, episódio. Eu friso isso pois, por mais empolgado que estivesse, não acreditava que o lançariam assim, relutando por querer algo completo mesmo que demorasse a chegar. Ainda hoje em 2024 certos efeitos dessa decisão batem com os receios que tinha: precisei comprar um novo console, o PS5, para ter acesso ao meio e, espero, conclusão da trilogia. Os tempos são outros, de desenvolvimentos mais trabalhosos, caros e arriscados, e FFVII carrega um peso tão grande dentro e fora de seu país de origem que, por tudo isso, tento compreender a meticulosidade em entregá-lo episodicamente às gerações atuais.

É como se uma pressão tomasse forma e pairasse sobre os ombros do time de desenvolvimento, dizendo: “sem chances para erros aqui, queridos! Vamos por partes”

Com a iminência de Final Fantasy VII Rebirth, o segundo capítulo do remake, decidi concluir a primeira parte da luta contra a Shinra e “você-sabe-quem” no PS5. A experiência que tive foi inicialmente cercada por uma dúvida quanto a Midgar ser autossuficiente para comportar um jogo inteiro. Ora, se no original os protagonistas concluem sua passagem pela cidade em poucas horas, como conseguiriam expandir isso de maneira interessante?! Felizmente o fizeram, e num geral com decisões que me agradaram.

Cloud Strife é um ex-Soldier, ou membro de elite da guarda da companhia elétrica Shinra, que agora trabalha como mercenário. Ele acaba sendo contratado por um grupo de "ecoterroristas" conhecido como Avalanche, eles que lutam contra a citada Shinra movidos pelo fato dela abusar da força vital do planeta. Embora minha memória não possa ser levada em consideração dado ao tempo desde o primeiro contato com Cloud, Barret Wallace, Tifa Lockhart (❤) e Aerith Gainsborough, é nítida uma preocupação em desenvolvê-los melhor, lhes dar mais voz. Aliás, isso é válido não só para eles como a personagens secundários que também são importantes e geram emoção durante o enredo. Decisões esperadas de um jogo que se estende propositalmente, uma oportunidade imperdível. Do que compreende a trama principal porém, existem diálogos e situações mais leves e cômicas que, ao meu ver, nem sempre são adequadas; destoam, embora sejam exemplos saudosistas dos trejeitos nipônicos e resgates da obra de origem. 

Há momento para tudo, claro, sendo a passagem pelo Mercado Murado uma quebra divertida em meio ao tom mais sério que o jogo adota durante os seus capítulos mais críticos. Ainda estamos falando duma fantasia afinal, mas foi em locais como esse que me veio um colorido lembrete de que mesmo diante do caos instaurado, ainda era possível sorrir e juntar forças para salvar o dia. Cloud lhe diria que não lembra de nada que aconteceu durante essa parte, aposto.


Narrativamente falando, o final é bastante chocante por evidenciar a ousadia de Kazushige Nojima – roteirista do PS1 e dos jogos atuais. Suspeitava de algumas coisas e ainda caminho sob achismos, mas será interessante ver o que ele decidiu fazer em eventos futuros que, para quem já jogou o primeiro como eu, definiram a trama e toda comoção que ela causou. Mesmo preso em Midgar, o jogo conseguiu desenvolver bem a personalidade de seus heróis, fazendo entender melhor receios e motivações ainda que os mesmos paguem, por vezes, um preço alto para alcançar os seus objetivos. Contudo, acredito que quem desconhece o passado antagônico acabe considerando flashbacks e devaneios demasiadamente vagos, não contextualizando bem o papel do vilão na vida de cada um; aqui inexiste a ambiguidade que passei em FFXIII, e até o final fica escrachado o problema principal a ser superado. Vamos pensar assim: é uma introdução, de muitas horas, mais ainda assim uma.

Mesmo que o primeiro episódio se passe em apenas um local, o número de sidequests disponíveis foi algo que achei agradável. Trata-se de uma quantidade menor de conteúdo paralelo, sem exageros, o que faz com que ele traga um ritmo menos maçante para conclusões. Sem surpresas, ainda há missões totalmente descontextualizadas da jornada principal de Cloud e cia., como encontrar gatinhos perdidos, mas só o fato de não haver uma enxurrada delas é algo a se comemorar. O foco dos desenvolvedores foi outro, dar mais pano de manga narrativo e para personagens, e a balança felizmente pende mais para esse lado. Contudo, o que existe de opcional ainda envolve minigames e outras atividades que são legais e recompensadoras de se fazer. Eu só tenho uma ressalva: a forma com que as Matérias de invocação (summons) foram incluídas no jogo, algo bem menos instigante que procurá-las em locais específicos e especiais – não há como negar porém que, independente de qualquer coisa, elas continuem um espetáculo à parte!


Se em FFXVI eu achei que a ação pecou pela repetição e falta de variedade, eu já considero o oposto em FFVIIR. Em poucas horas tive acesso a diferentes formas de confrontar inimigos, tudo graças a incorporação e evolução das Matérias; elas servem para dar capacidades especiais aos personagens, além de melhorar seus atributos. Acoplá-las nas armas e acessórios em níveis mais avançados, com os devidos ajustes, fez com que o meu time desempenhasse papéis como DPS, tanque, curandeiro e afins muito bem. Aliás aqui, diferente de FFXVI, eu posso controlar toda a equipe e não apenas um protagonista, e eu acho isso tão intrínseco à franquia que senti outra das perdas ocorridas no décimo sexto jogo.

FFVIIR também é um jogo de ação, todavia um que mantém a estratégia ao permitir, por exemplo, pausar todo o frenesi e escolher comandos com calma. O legal é que o sistema de batalha ainda é moldado em torno das clássicas barras de ATB (Active Time Battle) lá de FFIV, necessitando que se espere um preenchimento para usar ações mais poderosas, magias ou mesmo itens. Não é só sair apertando botões desenfreadamente, pois em muitos casos isso vai surtir bem menos (ou nada de) dano que realizar outras coisas. Mas se você quiser manter o dinamismo, o sistema também permite cadastrar atalhos a fim de um ritmo mais inquieto. É algo bastante flexível, prazeroso e exemplifica que, quando bem implementada, a ação está longe de agir como demérito para uma franquia que ainda é mais conhecida pela cadência de seus turnos.

Apesar de possuir seus motores gráficos proprietários, a Square Enix decidiu recriar FFVII com a ajuda da Unreal Engine 4. Isso foi reflexo de períodos de desenvolvimento conturbados e também, muito provavelmente, para agilizar um projeto com um escopo tão grande. Dito isso, o jogo é um esplendor visual, restando a certas texturas e NPCs contrastarem com a qualidade geral. Ainda que o original traga o seu charme pré-renderizado, ele está datado, e a nova versão é um salto enorme que me faz crer numa Midgar que poderia, caso inteiramente visitável, ser facilmente o palco do início, meio e fim da jornada. Mas digo isso do ponto de vista teórico já que, embora apresente uma metrópoles enorme e energizada sobre sua superfície, o jogo e sua narrativa explorem mais a realidade abaixo dela com favelas, submundos e locais que os mais afortunados dificilmente colocariam os seus pés.


Por falar nisso, vou dizer que tive sensações semelhantes as de FFXVI: um jogo bastante direcionado e, bem, linear. Na verdade, ainda mais aqui do que no conto dos irmãos Rosfield. Sei que Rebirth tentará remediar isso, dando ao jogador um mundo para explorar além dos limites de Midgar, mas aqui não há muito para onde fugir. Esse tipo de linearidade só não é pior pois o jogo não acumula conteúdo para além de 40h, mas até objetivos paralelos guardam poucas surpresas em termos de exploração; é desinteressante ficar andando pelos mesmos mapas por muito tempo. É uma ambientação visualmente agradável, mas também de pouca variação. Daí nasce um forte desejo de poder respirar fora de um confinamento suburbano lotado de corredores, esgotos, e destroços, mas esse momento nunca chega.

Eu estou imensamente empolgado em dar continuidade ao que vi e vivi aqui, mas o primeiro episódio é, de fato, introdutório. Essa definição vale para ambos os lados positivos e negativos do remake, entretanto, no fim do dia, seu perfil mais enxuto também realça um game design japonês impositor. Personagens emblemáticos, sistema de batalha viciante, além de visuais e trilha sonora incríveis completam a epicidade que o título não deixa de trazer, algo que eu sempre espero de Final Fantasy. E por mais que eu tenha torcido o nariz pela divisão episódica, hoje me sinto contestado.


Talvez esse foi o preço para que FFVII conquistasse a sua liberdade nas sequências. Sob tal pensamento acredito que Rebirth será, possivelmente, a parte mais emocionante e incrível dos três jogos que irão compor o retorno de Cloud. Mas o começo disso tudo definitivamente marca uma ótima aventura.

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E você aventureiro, qual é a sua relação de amor (ou ódio) com Final Fantasy 7? Comente aqui e compartilhe sua experiência com o clássico. Eu realmente gosto muito da história e seus personagens, além de derivados como o filme Advent Children. Apesar de toda evolução do remake, tenho um objetivo pessoal de voltar ao original e terminá-lo algum dia desses, é uma questão de honra! 

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